PALAVRA de DEUS
Na carta apostólica promulgada no final do Ano Extraordinário da Misericórdia, no n.º 7, o Papa Francisco afirma que «seria conveniente que cada comunidade pudesse, num domingo do Ano Litúrgico, renovar o compromisso em prol da difusão, conhecimento e aprofundamento da Sagrada Escritura: um domingo dedicado inteiramente à Palavra de Deus, para compreender a riqueza inesgotável que provém daquele diálogo constante de Deus com o seu povo». É crucial que este apelo do Santo Padre não seja descurado, remetendo-o para iniciativas individuais das agendas e dos programas do ano pastoral, de acordo com sensibilidades espontâneas. Não pode faltar, a esta iniciativa, o alcance e a dimensão nacional, que a todos envolve e compromete, conferindo a importância e o devido lugar que a Palavra de Deus tem no seio da família e da comunidade. Como nos ensinam os Padres da Igreja, não devemos deixar cair por terra um só fragmento da Palavra de Deus, tendo o mesmo cuidado que se tem com a Eucaristia, tornando-a palavra de vida, porque atua na vida de cada crente, acolhendo-a como Palavra de Deus e não palavra humana (1Ts 2,13). «Não há de faltar – acrescenta o Santo Padre – criatividade para enriquecer esse momento com iniciativas que estimulem os crentes a ser instrumentos vivos de transmissão da Palavra. Entre tais iniciativas conta-se certamente uma difusão mais ampla da lectio divina, para que, através da leitura orante do texto sagrado, a vida espiritual encontre apoio e crescimento.»
Remontam a meados do século XVI as primeiras celebrações do dia ou do domingo da Palavra, no âmbito da Igreja Protestante. Foi só no Concílio Vaticano II, com o documento conciliar Dei Verbum, que ficou reconhecida, na Igreja Católica, a necessidade de facultar o mais possível a palavra de Deus a todos os fiéis, incentivando a divulgação, o estudo e a celebração litúrgica com maior diversidade e abundância de textos escriturísticos. «Visto que a palavra de Deus deve estar sempre acessível a todos, a Igreja procura com solicitude maternal que se façam traduções aptas e fiéis nas várias línguas.» (Dei Verbum, n.º 22) A centralidade que o Concílio Vaticano II concede à Palavra de Deus tem a finalidade de apresentá-la como Palavra que se torna sempre atual e, por conseguinte, viva e eficaz. Para isso, o mesmo documento do Concílio Vaticano II afirma a importância do acesso direto às Escrituras, o estudo, a tradução da Bíblia e a leitura orante.
O Papa Francisco terá manifestado, assim, o desejo de não perdermos o vigor da mudança operada pelo Concílio Vaticano II, aprofundando as fontes da Revelação. É, também, um alerta para a tentação de uma certa acomodação que faz recuar aos tempos anteriores ao Concílio, enclausurando-nos numa segurança aparente, alheados da realidade.
Trata-se de reconhecer que «os livros da Escritura ensinam com certeza, fielmente e sem erro a verdade que Deus, para nossa salvação, quis que fosse consignada nas sagradas Letras. Por isso, “toda a Escritura é divinamente inspirada e útil para ensinar, para corrigir, para instruir na justiça: para que o homem de Deus seja perfeito, experimentado em todas as obras boas” [2Tm 3, 7-17]» (Dei Verbum, nº11).
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